quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Leitor de livro eletrônico da Amazon simplifica biblioteca digital



Kindle gasta pouca energia e oferece internet sem fio grátis nos Estados Unidos.
Livros custam a partir de US$ 3; usuário também pode assinar jornais e blogs.
É preciso muita audácia para lançar um leitor de livro eletrônico em 2007. Sem dúvida, a idéia tem o seu atrativo: um leitor eletrônico permite que você armazene centenas de livros, pesquise ou pule para qualquer parte do texto e aumente o tamanho da fonte quando sentir a vista cansada.

Mas os contra-argumentos não são menos convincentes. Os livros impressos são baratos, nunca ficam sem bateria e sobrevivem a quedas, derramamentos e atropelamentos. Além disso, seu formato de arquivo ainda poderá ser lido daqui a 200 anos.

Assim, os aparelhos para ler livros eletrônicos continuam chegando e frustrando, como é o caso do Rocket eBook Reader, do Gemstar, Everybook, SoftBook e Librius Millenium Reader. O Sony Reader continua nas lojas, custando US$ 350 e abocanhando literalmente dezenas de vendas.

Mas na segunda-feira (19), a Amazon lançou o seu próprio leitor de livros eletrônicos, o Kindle. O produto chega ao mercado custando US$ 400, sendo que o material de leitura é vendido separadamente. Esse pessoal enlouqueceu?

Pedaço de plástico


O Kindle é uma placa fina de plástico branco que pesa 280 gramas, revestida por um material que imita couro. Não é, veja bem, lindo; é todo feito de plástico branco, com ângulos pronunciados e junções expostas, com a bazófia de design de um Commodore 64 (videogame das antigas).

Sua parte levemente mais grossa do lado esquerdo pretende dar a sensação de um livro de brochura em sua mão. A tela utiliza a mesma tecnologia sensacional E Ink implementada pelo leitor da Sony. O visual é de tinta preta sobre papel cinza claro: sem luz de fundo, sem brilho, sem cansaço para os olhos, e sem a necessidade de desligá-lo, nunca.

Isso porque a E Ink consome energia apenas quando você vira uma página. Nesse momento, milhões de partículas são formadas em um padrão de letras (ou imagens em escala de cinza de quatro sombreamentos) por uma breve carga eletrônica, e ali podem permanecer para sempre, mesmo se você retirar a bateria. Não se desliga esse aparelho; você apenas o acomoda, como um livro. A "tinta" fica tão perto da superfície da tela que parece que foi impressa ali mesmo, o que torna a leitura agradável, concentrada e natural. Ao virar as páginas, apenas um flash preto e branco, que desconcentra um pouco, o faz lembrar que aquilo não é papel.

À direita do aparelho há uma faixa vertical entalhada da extensão da tela. O que parece um pedaço brilhante de cromo prateado percorre essa faixa à medida que você rola o botão clicável abaixo dela. Esse é o seu cursor; o fragmento prateado controlado eletronicamente que amplia e encolhe para ressaltar os botões ou pedaços da página na tela à esquerda.

Revolução on-line


Mas a verdadeira revolução está no serviço gratuito de banda larga sem fio do Kindle. Olha, se você acabou de engasgar com o café, você está perdoado; as palavras "gratuito" e "banda larga sem fio" quase nunca foram usadas na mesma frase antes. O Kindle faz o acesso on-line usando a rede de dados de celular 3G da Sprint, o mesmo serviço que custa US$ 60 por mês para usuários de laptops corporativos. O preço do Kindle dói menos quando você fica sabendo que a Amazon pagará toda a sua conta das conexões sem fio.
Portanto, o Kindle pode ter acesso on-line em quase todo lugar, não apenas em pequenos hot spots de cafés, mas também em táxis, filas e consultórios médicos.
Existe ainda um navegador web nada sofisticado. É ótimo para texto e imagem, ruim para layouts da web e inútil para transmissão de áudio ou vídeo. Mas com algum empenho, você consegue usá-lo para ler notícias, reagendar um vôo, monitorar blogs e até verificar o e-mail da web (como o gmail).

Mas não é por isso que a Amazon está pagando sua conta de conexão sem fio, e não é por isso que ela prejudicou o design com um teclado minúsculo. Não, a verdadeira finalidade é o download instantâneo de livros.

A loja do Kindle oferece as listas dos best-sellers, listas mais populares e uma caixa de pesquisa. O catálogo inclui 90 mil livros até agora, com 101 dos atuais 112 best-sellers do ranking do New York Times. Esse número desbanca o catálogo da Sony (20 mil livros), mas a Amazon afirma que isso é apenas a ponta do iceberg. Seu objetivo é que todo e qualquer livro impresso na face da Terra esteja disponível para download instantâneo.

É uma idéia revolucionária. Alguém comenta sobre um ótimo livro, qualquer livro. Você varre o Kindle, faz o download do livro em 60 segundos e começa a lê-lo.

A fantasia não foi totalmente concretizada por enquanto. Existe uma quantidade infinita de bons títulos na loja do Kindle, mas não se encontra tudo. Não há nenhum da série "Harry Potter", e também não encontrei "A Menina que Roubava Livros", nem "Uma Verdade Inconveniente".

Mesmo assim, a gratificação imediata do recurso sem fio é inebriante, sobretudo se comparada ao método desajeitado usado pelos leitores eletrônicos anteriores: por um Windows PC e um cabo.


Sebo virtual


tra reviravolta: os livros da Kindle em geral custam menos da metade do preço dos livros impressos (e muito menos do que os livros eletrônicos da Sony). É uma questão de bom senso: por que um arquivo digital custaria tanto quanto um objeto físico, manufaturado e distribuído? A maioria dos livros "capa dura" da Kindle custa US$ 10. Títulos como "I Am America (and So Can You)", "Deceptively Delicious" e "Freakonomics" custam US$ 10 no Kindle; os preços desses livros nas lojas são US$ 25 ou US$ 26. Livros mais antigos saem por US$ 3 a US$ 6.
ocê pode ainda assinar os principais jornais, como o NYT, por US$ 13 por mês. Seu jornal chega às 3 da manhã, silenciosa e automaticamente, completo com todos os artigos e fotos (embora sem os quadrinhos, palavras cruzadas, classificados, etc). Disponíveis ainda: revistas (por exemplo, US$ 1,50 por mês pela Time) e blogs (US$ 2 por mês).

Claro que mesmo com esses preços tão baixos, você ainda irá demorar bastante tempo para recuperar o preço de US$ 400 que pagou pelo Kindle; esta máquina tem a ver com conveniência, não economia.

Mas se você estiver meio sem dinheiro, pode também alimentar o Kindle com seus próprios documentos e fotos, por e-mail. Você, ou seus subordinados autorizados, podem enviar por e-mail arquivos em Word, PDF, JPEG e de texto diretamente para o seu endereço especial do Kindle, inclusive qualquer um dos 20 mil livros eletrônicos gratuitos e de domínio público do Gutenberg.org. A Amazon cobra US$ 0,10 por documento enviado por e-mail, mas se até isso for caro demais para o seu bolso, você pode ainda transferi-los de um Mac ou PC, por um cabo USB.

Esse recurso permite que você analise documentos, contratos e manuais de usuário enquanto estiver em trânsito, sem precisar de um laptop.


Milhares de livros


O Kindle tem capacidade para cerca de 200 livros. (Eu, como escritor, fiquei um pouco atormentado ao saber que todos aqueles meses de trabalho acabaram reduzidos a um patético arquivo de texto de 800 kbytes.) É possível inserir um cartão de memória SD para armazenar mais milhares.

Todo o seu material de leitura, suas anotações, destaques e marcações, ficam automaticamente em backup no Amazon.com. Você pode apagar itens quando o Kindle estiver cheio, com a certeza de que poderá fazer outro download posteriormente.

A Amazon afirma que você obtém o equivalente a dois dias de leitura por carga de bateria substituível, ou uma semana, se mantiver o recurso sem fio desligado.

O Kindle também toca os áudio-livros que você compra do Audible.com, mas eles precisam ser comprados e carregados a partir de um computador. Você pode até tocar arquivos MP3 como música de fundo para a sua leitura (apenas no modo random).


Uma nova leitura


No entanto, há também os probleminhas. As margens direita e esquerda do Kindle são botões gigantescos de “página anterior” e “próxima página” e é praticamente impossível evitar clicá-los sem querer. Existe um botão “retornar”, mas não um botão “avançar”, o que representa um verdadeiro empecilho quando você está na web ou na loja do Kindle.

Não é possível fazer a leitura na orientação paisagem. E não é possível mudar o tamanho da fonte na web, nem mesmo na loja Kindle, cujo texto é realmente minúsculo.

Sendo assim, o Kindle pode até não ser uma cesta de três pontos, mas é no mínimo uma bela enterrada. Ele garante o que é mais importante: a experiência de leitura, a resistência e a configuração extremamente simples do software. Sem contar aquela história do download instantâneo sem fio. Poxa, isso é demais!

Embora a maioria das pessoas sempre preferirá a sensação, o preço e a simplicidade do livro em papel, o Kindle é, de longe, o aparelho mais bem-sucedido a inserir a leitura na era digital. Não, não é a última palavra em leitura de livros. Mas quando seu preço diminuir e seu design se tornar mais arrojado, o Kindle poderá ser o começo de um novo capítulo imperdível.Fonte: New York Times

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